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"Resultado que nasce incansável da arte de lapidar palavras e transmitir conteúdos"

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Crônica bem humorada de realidade inventada!

   Por um mindinho!

Dedo Mindinho. Crédito de Imagem: Smartkids
O ronco grave e ritmado cessou de repente e o coração despertou acelerado. Tinha sido o som de uma lâmina aguda, ao cortar ao meio uma cenoura, que lhe assustara. Os barulhos da faca picando legumes sobre a tábua de madeira vinham da cozinha. Ela deveria estar preparando sopa para o almoço, pensou.

Raios de sol entravam pelas frestas entre as telhas e a parede de alvenaria, o estrado da cama estralou e o cheiro de café invadiu os pensamentos dele. Suas mãos foram ao encontro de seu rosto, esfregaram os olhos e coçaram a barba. Depois, tatearam o criado mudo até encontrar o relógio de pulso, presente de aniversário da mãe, e a aliança de casamento. Ele olhou o anel dourado brilhando no dedo, lembrou-se da esposa e voltou a prestar atenção nos ruídos da cozinha. Só podia ser sopa.

Levantou-se, foi ao banheiro, abriu a torneira, colocou as mãos em forma de concha e deixou, por alguns segundos, a água acumular-se ali. Jogou-a no rosto para espantar o sono e lavar a cara amassada. Trabalhar na fábrica à noite tinha suas vantagens e desvantagens. Caminhou em direção à porta, colocou a mão na maçaneta de metal, meio enferrujada, e sentiu um calafrio. Mas seu único pensamento foi: preciso de um café. Encontrou a garrafa térmica em cima da mesa da cozinha. Pegou um copo de vidro na pia e serviu-se, o que primeiro esquentou-lhe a mão e logo depois o estômago.

Só então ele reparou que a cozinha estava vazia. De dentro do panelão de alumínio no fogão vinha um som de borbulhas. Ele estava curioso: seria mesmo sopa? Largou o copo, aproximou-se do fogo, segurou a tampa da panela com a mão direita e, com cuidado, abriu-a. O vapor subiu e inundou o ambiente. Era sopa. Ele se distraiu por um instante, feliz por ter adivinhado qual seria o prato do almoço. De repente, uma borbulha mais ousada estourou e o líquido fervendo atingiu-lhe o dedo. Largou a tampa da panela com força, praguejou e esfregou a pele ardida.

Nesse momento, a esposa entrou na cozinha, ouviu o marido xingar e segurar o dedinho e ficou preocupada. O que aconteceu? Deixe-me ver, queimou? Qual dedo foi? O mindinho, não se preocupe. Esse dedo é inútil, não serve para nada, disse ele. Cerca de quinze horas depois, um companheiro da metalúrgica iria cometer um erro fatal e largar a prensa de metal, meio enferrujada. Lula só escaparia por um mindinho. Salvou a mão, mas perdeu o dedo inútil.

2 comentários:

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