Beijo
na boa é coisa do passado, a moda agora é: morar com o namorado(a)!
Quando o assunto é casar ou comprar uma
bicicleta, às vezes nenhuma das duas opções satisfaz. As mulheres são tão
independentes que tanto podem escolher uma vida de solteiras, com ou sem
bicicleta, como podem viver logo com quem amam, sem que seja necessário uma
amarração tradicional por trás desse ato.
Hoje, Julia (30), Marion (30),
Daniela (27) e Pamela (21) contam suas experiências a partir do momento em que
decidiram morar com seus parceiros e parceiras.
Há quase 5 anos morando juntos de aluguel,
num total de 8 anos de namoro, quem larga na frente é Julia e seu agora recente
marido Ronald (31). “Fizemos a declaração de união estável este ano só para
podermos viajar e ele usar o seguro de saúde do cartão de crédito”, explica
Julia. A referida viagem, de 1 mês pela Califórnia, foi bancada com o dinheiro
que eles decidiram não gastar em
festa de casamento.
Em segundo lugar, com quase 3 anos de namoro
e igual tempo morando juntas, está Marion e sua companheira Gabi (27). A
epopeia delas começou com apenas 1 mês
de namoro. Marion deixou sua cidade natal, Serra Negra, no interior de São
Paulo, e veio junto com a filha Heloá, na época com 6 anos, morar no
apartamento da sogra. A criança logo se afeiçoou à nova vovó, já Marion: “Saía
briga todos os dias e em pouco tempo ela me expulsou de lá”. O jeito foi voltar
para sua cidade com a filha e a namorada, ao apartamento alugado que dividia
com o ex-marido, com quem tinha uma relação pacífica.
Outro ato corajoso é o de Pamela Cristina e
Thaina (20). Elas são namoradas há 4 anos e moram juntas há 2 e meio na zona
sul de São Paulo. Foi a primeira experiência morando independente da família
para ambas e elas já estão no 2º aluguel,
sendo que o 1º foi uma casa de parente, então não tiveram problemas com seguro
fiança, nem nada. Mesmo assim, já enfrentaram muitas situações difíceis.
E AGORA, AMOR?
Vamos começar essa história com Daniela e Bruno
(34) que também são namorados há quase 4 anos, ambos ainda vivem com familiares
e agora andam pensando no próximo passo: morar
juntos. Para Daniela, é importante passarem um período de test drive antes de considerarem um
casamento, mas seu sonho da casa própria está cada vez mais distante. “Eu
sempre tive o pensamento de comprar a minha casa, o Bruno não, ele prefere mais
o aluguel”, explica Daniela.
Mesmo ela concorda que investir suas
economias para dar entrada em um imóvel, neste momento, não é um bom negócio, pois
além da insegurança financeira, os preços onde querem morar são abusivos.
“Alugando, podemos morar num lugar bom e com preço justo", diz ela, que trabalha
na região do Campo Belo e Moema, na zona sul de São Paulo.
Se dependesse de Daniela, eles já estariam
fazendo as malas, mas sua impulsividade é controlada pelo namorado que coloca
as contas na ponta do lápis e pesquisa bem antes de tomar uma decisão. “Ele é
muito centrado e compreensivo, eu trabalho das 6h às 22h e já sei que não terei
condição de cuidar da casa, mas ele é tranquilo com relação a isso, está
acostumado a conviver com mulheres, além de ser bastante companheiro. A gente
combina, com certeza isso vai dar certo”, afirma Daniela.
SAI DESSA FURADA...
Julia, que passou pela experiência de
entrar em um financiamento de apartamento na planta e desistiu dessa empreitada
a tempo, não se arrepende. "Ficamos assustadíssimos com os juros das
construtoras, o quanto a gente pagava e não mudava o saldo final, então
desencanamos disso e agora moramos de aluguel” conta.
Entre morarem na periferia da zona oeste da
capital paulista e no coração do bairro de Pinheiros, não há dúvida de qual
opção agradou mais ao jovem casal. “Vale mais a pena pra gente, estamos num
bairro melhor, perto do trabalho, não gastamos horas no transporte e o valor
final que se paga em imóvel financiado é muito absurdo”, pondera Julia. Ela
considera que as gerações passadas ainda compravam imóvel nos bairros melhores
de São Paulo, hoje, porém, a relação do salário de um cargo de nível intermediário
com o valor dos apartamentos torna esse sonho impossível.
“Preferimos juntar dinheiro e pagar à vista
do que ficar 30 anos com uma dívida”, explica Julia. Mas, na verdade, nem essa
opção é a que norteia os dois atualmente. Por não estarem amarrados a uma bomba
imobiliária, eles começaram a considerar outras possibilidades de vida: “Agora,
nossa expectativa é mudar para o Canadá, então não rola nenhuma vontade de
comprar um imóvel no momento”, revela.
E AS DIFICULDADES?
Sim, elas existirão sempre, seja morando
com os pais, sozinha, com amigos ou o/a namorado/a. “Desde o primeiro aluguel,
até agora, acho que trocar o gás foi a maior aventura pra gente”, afirma
Pamela. “E teve um outro momento em que a porta do guarda-roupa caiu e tivemos
que arrumar, ou tentar pelo menos”, ela se lembra do episódio rindo. “Uma vez
fritou a eletricidade do apartamento e tivemos que trocar toda a fiação”, conta
Julia, indignada. Claro que eles foram reembolsados por isso.
Quando acabou o primeiro contrato de Serra
Negra, Marion e Gabi decidiram se mudar para outro lugar mais em conta, dessa
vez sem a companhia do ex-marido, porém: “Foi um desastre, chovia mais dentro
do que fora naquele apartamento, perdemos uma cama novinha”, conta Marion. Após
muita conversa, elas tomaram a decisão de retornar a São Paulo e morar
novamente com a mãe de Gabi, que estava vivendo numa casa.
“Apesar de não me dar bem com minha sogra,
entendi que ela é uma mulher doente e precisava de auxílio, perdi minha mãe há
dez anos e não queria afastar minha namorada da mãe dela também”, Marion
explica um dos motivos que norteou sua decisão. O que mais dava forças para
seguirem enfrentando as dificuldades era acreditarem que logo teriam um lar
decente só para elas e a filha, claro.
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Quem mora de aluguel tem que se virar para
deixar um toque pessoal ao lugar. “Se fosse nosso, a gente mudava tudo, mas não
fazemos porque não compensa”, afirma Julia, pensando em todas as reformas que
ela e Ronald teriam vontade de fazer. No entanto, eles investem em decoração,
colocando quadros e outros objetos no apê.
Para Julia, uma preocupação constante de
quem mora de aluguel é quando está acabando o contrato e a renovação costuma
vir acompanhada de aumento. “Quem aluga está sempre buscando outra coisa, sabe
que o contrato vai vencer e fica de olho se aparece uma oportunidade melhor”.
Mas, como até agora eles sempre conseguiram negociar a renovação contratual,
apesar do valor já ter subido um terço em relação ao que pagavam no início,
acabaram não saindo do mesmo apartamento.
Além do amor e outros tantos motivos para
tomarem essa decisão de morarem juntas, Pamela ainda ressalta: “Alugamos muito
por uma questão de logística, eu morava em um lugar ruim de transporte, e então
achamos um lugar e um jeito de ir morar juntas”. Claro que não é fácil, as
meninas acabam sendo alvo de críticas por serem jovens, mulheres e
homossexuais. “Pessoas falando mal sempre tem, somos cercadas desse tipo de
comentário, mas não ligamos pra essas coisas, o povo fala, mas não separa”,
declara ela, confiante.
Entre os bons momentos disso tudo, a jovem
destaca a primeira vez na cozinha juntas: “Fazemos um macarrão delicioso”. Para
Pamela, ter o próprio espaço é a melhor coisa, mesmo que seja alugado, e não
tem essa de que a relação esfria ou que a convivência diária acaba com o namoro,
apaixonada por Thaina, ela se declara: “Sabe aquela sensação de completo? Acordar
numa metade e ter ao seu lado a outra metade que te faz um inteiro? Ao acordar
ao lado dela, mesmo sabendo que vou ter um dia difícil no trabalho, também sei
que vou poder voltar e dormir num colo calmo! Ela me traz essa calmaria”.
Alugar tem mesmo suas vantagens e
desvantagens, mas no fim, será que a aventura compensa? “Dividir a casa com ele
é muito fácil, não tem conflito, nos damos bem, quase nem brigamos”, responde
Julia feliz. Geralmente, a divisão deles para as tarefas domésticas é: ela
cozinha, ele lava a roupa e eles racham a louça. “Não nos arrependemos de optar
por essa fórmula. Moramos de aluguel onde queremos, ganhamos muito em qualidade
de vida e economizamos horas de deslocamento”, conclui ela.
Depois de 4 tentativas, já faz 1 mês que Marion e Gabi estão morando sozinhas, desta vez num apartamento alugado em Interlagos. “Quando vi meu quarto dos sonhos, com a parede roxa, a lousa de borboleta, a mesinha, tudo tão lindo, eu chorei”, conta Heloá, que agora já está com 9 anos e também sente que, pela primeira vez, pertence realmente àquele lugar. As “mães” sabem que não será fácil, mas esperam dias melhores do futuro, sem jamais perderem a esperança.
Depois de 4 tentativas, já faz 1 mês que Marion e Gabi estão morando sozinhas, desta vez num apartamento alugado em Interlagos. “Quando vi meu quarto dos sonhos, com a parede roxa, a lousa de borboleta, a mesinha, tudo tão lindo, eu chorei”, conta Heloá, que agora já está com 9 anos e também sente que, pela primeira vez, pertence realmente àquele lugar. As “mães” sabem que não será fácil, mas esperam dias melhores do futuro, sem jamais perderem a esperança.